Notas de transcrição:
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A primeira contém o texto com a grafia de acordo com o original impresso em 1894. A segunda, contém uma variante com a grafia actualizada para português europeu.
ALBERTO PIMENTEL
Poetas do Minho
I
JOÃO PENHA
BRAGA
CRUZ & C.ª—EDITORES
MDCCCXCIV
POETAS DO MINHO
BRAGA
TYP. «MINERVA COMMERCIAL»
José Maria de Souza Cruz
1893
ALBERTO PIMENTEL
Poetas do Minho
I
JOÃO PENHA
BRAGA
LIVRARIA ESCOLAR DE CRUZ & C.ª
EDITORES
Aquelle meu espirito opulento,
Que vivia na luz dos sonhos bellos,
Jaz ha muito nas ruinas dos castellos,
Que no ar edifica o pensamento.João Penha.
«... Quem publica um livro não o faz para o ler, publica-o para que os outros o leiam. Quer, portanto, produzir um effeito qualquer, effeito que, em todo o caso, não pode ser o do somno: para este ha o opio, a belladona e o Codigo do Processo Civil.»
João Penha.
Ha quinze dias, João Penha e eu, sentados no mesmo banco doamericano, vinhamos do Senhor do Monte para Braga, e conversavamos delitteratura. Nomes de auctores, nomes de livros, recordações dispersas, dotempo em que elle redigia a Folha em Coimbra e eu lhe enviava do Portoalgum insignificante auxilio de collaborador, passavam rapidamente naprecipitação{8} tumultuante do dialogo, a cada momentointerrompido pelas paragens do tramway, pela entrada e saida depassageiros, pela voz auctoritaria do conductor, que explicava em dialectocalaico:
—Bai cheio. Num ha logar.
Tendo João Penha alludido a mais de um dos poetas, que constituiram aconstellação academica da Folha, para entrelembrar casos e anecdotas dabohemia coimbrã, disse-lhe eu de repente:
—Por que não escreve as suas memorias de Coimbra?
—Não tenho tempo, respondeu elle. Encheriam tres volumes.
Tres volumes, de certo, porque João Penha foi o chefe de um cenaculonumeroso, que viveu na alegria e nas lettras, que teve aventuras e triumphos, eque legou aos cursos